quinta-feira, outubro 04, 2007

Ser o que sou. Ou não.

O que sempre me agradou neste blog foi o facto de poder escrever sobre trivialidades, trivialidades essas que ouvia no dia a dia, na conversa no café, na voltinha diária pela net, nos mil artigos que lia por dia sobre nada, nas investigações que fazia sobre produtos inúteis, etc.

De momento, sinto-me embrutecido.

Sou invadido diariamente pelo “ser adulto”. As minhas conversas dissipam-se entre os dedos com que teclo. O único assunto por mim pensado nos últimos tempos é trabalho. Não que trabalhe muito ou pouco, o problema é única e exclusivamente que só consigo pensar/ falar nesta tão maldita coisa.

Sinto falta das baboseiras, das porcarias que passava horas a ver no ebay, nos sonhos infindáveis com Bentleys e Penthouses em Park Avenue…sinto, essencialmente, falta de sonhar. Penso que é exactamente a isso que se resume o meu vazio.

Antigamente, quando do Euromilhões se falava eu não compreendia os outros ao dizerem-me “…comprava um BMW e uma boa casa…”. Um BMW e uma boa casa? Fo$asse, para que é que eu queria um Beemer? Eu queria era a porra dum Enzo, um SLR, e um Maybach, tudo o que de abaixo se tratasse era simplesmente carro de pobre. Isto era o que a minha cabecinha conseguia produzir em forma de sonhos, tal era a utopia financeira que lá por cima se passava.

Agora quando a conversa do Euromilhões surge, eu sinto-me vazio, pobre, de espírito. Acho que é isso. Mesmo.

Sinto aquele vazio que nunca havia sentido, o tal vazio do: “Um bom carro e uma boa casa”.
Quem não me conhece, ao ler este post estará neste momento com uma ideia bastante desfavorável da minha pessoa, um snob metido a rico, mas pobre.

Não.
(Não é ao pobre que se refere o “Não”, isso sou.)

Quem me conhece sabe que isso faz parte de mim, sonhos eternos escalados por Escalade’s e passeados por Hummer’s.

Hoje, sofro pelo facto de finalmente saber que nunca alcançarei nada do que estava contido nesses sonhos. Nunca andarei passearei de Murciélago Cabrio por Upper East Side, com o braço de fora, exibindo um Breitling reluzente, que condiz com o anel de $M2 que ofereci à #1ª da Tiffany’s…O lugar cativo no campo do Madison Square Garden, as compras no Barneys, as Vuitton cheias de Prada e Gucci a embarcarem no meu Falcon para voar até Nekker Island, ou até mesmo o chegar de Phantom ao Burj Al Arab…

Nada, absolutamente nada.

O que me entristece não é o não ter, é o não poder sonhar que terei. Isso sim, custa.

A vida corta a esperança como uma faca corta manteiga no verão. Chega a ser cruel.

Quando um homem já não puder sonhar o que lhe restará.